quinta-feira, 25 de agosto de 2011

UM NOME FORTE, DOCE E REVELADOR

Com o coração aos pulos, eu vi aquela manhã se arrastar, como se não quisesse passar, apenas para atrasar a minha ida à uma loja de  enxovais infantis na hora do almoço.
Naquele dia eu nem almocei, entrei naquela loja e fiquei lá, namorando as roupinhas, os acessórios, os protetores de berço, as chupetas, os macacõezinhos, os sapatinhos, os brinquedos, os utensílios de banho, os cortinados, as cestas  onde se colocam aquelas coisinhas fofinhas, cheias de tecidos, fitas e tules, as toalhinhas de boca e banho, as banheiras, os pagõezinhos, os mijõezinhos, os jogos de mamadeiras, as fraldas  empilhadas em pacotes de todos os tamanhos...
Eu fiquei lá, olhando ...olhando...imaginando quantas vezes eu ainda iria entrar lá, com muitos sonhos nos olhos e quase nenhum dinheiro no bolso...
Por fim me decidi por um macacãozinho branco, com golas e punhos azuis.
O primeiro presente que eu comprei para o meu sobrinho e afilhado, eu pretendia que ele saísse da maternidade com aquele macacão.
Enquanto voltava para o segundo período de trabalho, trazendo na bolsa aquele pacotinho, envolto num papel todo colorido, repleto de motivos infantis, eu ria de mim mesma, da ilusão de que poderia planejar alguma coisa, era pura ilusão minha! na minha casa, nenhuma regra era respeitada mais, não tinha nada no lugar, tudo era mudado de lugar toda hora, e quando se procurava algo, se encontrava nos locais mais improváveis possíveis, quando encontrava!
Passei a tarde pensando numa maneira de guardar o enxovalzinho do bebê em segurança.
Pois meu salário nunca foi grande coisa, por isso cada aquisição sempre foi tida como um troféu. E as roupinhas do meu sobrinho se tornaria um verdadeiro tesouro, porque dali para frente eu haveria de renunciar à alguma regalia para garantir que nada lhe faltasse.
Sim, ele tinha os pais, mas ambos sempre estiveram ocupados demais com as despesas da doença de sua mãe.
E raramente sobrava algum trocado.
Mostrei o macacãozinho para minhas amigas que trabalhavam comigo, elas se encantaram, uma delas também estava grávida, o seu bebê nasceria em setembro, estávamos em julho, ela estava se dedicando em fazer um lindo enxoval para o seu primeiro filho, e percebendo a minha preocupação, me tranquilizou dizendo: _"o meu bebê nascerá antes do seu sobrinho, então vamos combinar o seguinte, toda roupa que não servir mais para ele, eu dôo para o bebê do seu irmão, tudo bem?"
Eu fiquei muito emocionada, nem tive palavras para agradecer.
A partir daí minha preocupação voltou a ser com a escolha do nome.
Graças a Deus sempre fui rodeada por anjos terrestres, os quais me socorrem nos meus momentos mais difíceis, então ouvi de minha outra amiga: _"Você diz que quer um nome bíblico, não é isso?, porque você não coloca Tobias, é um nome tão lindo, e não é comum."
Eu sorri e lhe disse, _ já pensei neste nome, mas a novela que terminou tinha um personagem com este nome, e eu vou odiar, ouvir alguém dizer que eu coloquei o nome no meu sobrinho, para homenagear galã de TV, acho isso de um mal gosto....
No mesmo momento ela respondeu: _"Mas até o bebê chegar, ninguém mais vai lembrar da novela...desencana!"
Eu conclui: _" É isso mesmo, e não devo satisfações a ninguém, vou ler o Livro de Tobias na Bíblia, se a história tiver algum significado para a nossa família, meu sobrinho será batizado com este nome.".
Quando cheguei em casa naquela noite, fui direto para o meu quarto, peguei a Biblia e comecei a ler o Livro de Tobias.
Logo nos primeiros versículos, comecei a ficar arrepiada.
Naquelas páginas, eu encontrei a explicação para aquela gravidez tão improvável.
A cada novo capítulo, meu ser era tranquilizado, e eu adormeci abraçada à Palavra de Deus, sem banho e sem jantar.

Alguem Para me chamar de Dinda

Madrinha...eu que já fui escolhida para madrinha tantas vezes...eu que amo tanto criança, mas que sou tão ausente da vida dos meus afilhados...eu , justo eu, que nos ultimos meses vinha brigando tanto com a minha cunhada e meu irmão, em defesa daquele filho que ela trazia na barriga.
Agora, ela me olhava sorridente sem maldade nenhuma, totalmente desarmada de qualquer tipo de ofensa, e me presenteava dizendo: "ESCOLHEMOS VOCÊ PARA MADRINHA DO NOSSO FILHO".
Eles acharam um meio de me deixar mais brava ainda, agora sim que eles não teriam paz mesmo, porque eu iria cobrar muito mais cuidado com essa criança, eles estavam me nomeando a segunda mãe dele.
E ainda permitindo que o caracterizasse com um nome, que levaria pela vida inteira!
Eu quase não me contive de felicidade, lhes agradeci emocionada, e fui para o meu quarto, como sempre fiquei grande parte da noite acordada, nomes de meninos que eu achava bonito desfilavam na minha mente:
Alexandre, Ulisses, Vinicius, Gustavo...não!!! pensei em determinado momento, esta criança está vindo como uma benção para as nossas vidas, então me lembrei que meu irmão quando voltou para casa após 12 meses internado em São Paulo, devido aquele trágico acidente, no qual perdeu os membros inferiores, sempre cantarolava esperançoso uma frase da música do Legião Urbana : " meu filho vai ter, nome de Santo, quero o nome mais bonito..."
No entanto esse episódio ficou esquecido nas dobras dos 80.
Porém toda vez que ouço  aquela música, lembro do olhar esperançoso do meu irmão, de um dia viver um grande amor, e constituir família, sempre fiquei na torcida por ele, e confesso que cheguei mesmo pedir em oração, para que seu sonho se tornasse realidade.
O desejo dele foi realizado meio às avessas, mas dizem que Deus escreve certo por linhas tortas...
Eu gosto de reforçar sempre, que acredito em Deus, no amor e em milagres.
Então comecei a pensar num nome bíblico.
Decidi que não seria nome de Anjo, pois apesar de serem lindos, por este mesmo motivo, se tornaram comuns demais.
Queria um nome forte e doce ao mesmo tempo.
Queria que soasse limpo e tivesse escrita simples.
Queria saber o significado, para um dia contar para ele as razões por que foi batizado com aquele nome.
Então vieram à minha cabeça: Thiago, Samuel, Natanael, Nicodemos, (os dois primeiros já estavam descartados também, porque eram muito repetidos). mas não poderia deixar de pensar neles, pois gosto muito!
Acabei adormecendo.
Trabalhava num escritório, com mais três amigas.
Elas sabiam que eu estava apreensiva com a chegada do meu primeiro sobrinho, porém não lhes falei sobre o sonho que havia tido semanas atrás, nem da tortura à procura de um nome bíblico para ele.
A mãe dele, resistia a todo custo, consultar um médico, tudo isso se devia a sua doença causada pela dependência química.
Um dia por milagre (daqueles que nunca desacreditei) ela passou pelo posto médico, e o doutor lhe pediu uma ultrassonografia urgente, pois pelos seus cálculos ela já estava grávida de 05 meses!
Na manhã do exame ela simplismente sumiu de casa, saiu antes de acordarmos....
Eu fiquei desesperada, o que causou mais uma discussão com meu irmão, acordei-o e lhe disse para encontrá-la e obrigá-la ir fazer o exame.
Fui trabalhar.
As 11:00hs atendi o telefone no escritório, e pude ouvir a voz de minha cunhada vibrando, dizendo: "_você ganhou! é um menino!!!!! Dinda!!!!
Meus olhos marejaram, mas tinhosa como sou, fale com voz firme: "_Estou muito brava com você, em casa conversaremos!", desliguei, minhas amigas estavam me olhando espantadas, então eu desabei a chorar e anunciei soluçando de alegria: "_Gente, é um menino!!!!".
Elas me abraçaram, e eu apenas conseguia repetir, eu sabia, eu sabia, eu sabia!!!!

Te Amo Tobias

Em maio de 2008, não me lembro exatamente a data, lembro apenas que a noite estava iniciando, eu havia chegado à pouco tempo do serviço, e estava preparando o jantar, para meu irmão, minha cunhada e eu.
Os dois, conversavam com amigos no portão de casa, nossa relação estava um tanto estremecida, estávamos de fato magoados um com o outro, não me lembro o que estava pensando, lembro apenas que vi minha cunhada sorrir, e olhar através do vitrô da cozinha dizendo: _ Você vai ser titia!
Eu gelei, primeiro porque ela estava falando comigo, após uma discussão horrível que havíamos travado dias antes, depois porque fiquei pensando nas consequências que essa criança sofreria, nascendo numa família toda desestruturada como a nossa.
Olhei receiosa para o meu irmão, ele apenas sorriu, demonstrando toda felicidade que um futuro pai, pode expressar.
Eu decidi não acreditar.
Porém demorei para pegar no sono naquela noite, o inverno estava se anunciando.
E eu orgulhosa como sou, não esbocei nenhuma alegria, apenas critiquei antes de ir para o quarto: _ Trazer filho no mundo para sofrer.
Estou certa que eles interpretaram esse comentário como despeito, porque não consegui ser mãe, e agora era tarde demais, pois já estava no auge dos meus 48 anos, o máximo que eu consegui foi ter ficado literalmente para TITIA.
Como a insônia não me dava trégua, iniciei uma oração, porém meu coração estava aflito demais, e a única coisa que consegui, foi rezar para S.Miguel, S.Gabriel e S.Rafael, para que protegesse aquele outro anjo que estava sendo gerado de maneira tão inconsequente e perigosa, porque sua mãe era dependente químico, e este vício havia dilacerado a nossa familia, e eu temia por aquela vida que ela trazia no ventre.
A noticia não mudou o meu comportamento como os dois esperavam, pois ambos sabiam do grande amor e apego que tenho por crianças, e que elas inevitavelmente me retribuem, eu olhava para a barriga dela quando a mesma estava distraída, e não via nenhum sinal de gravidez, devido ao uso da droga, ela estava muito, muito magra, era impossível que naquela barriga reta, vivesse alguém.
Passaram-se algumas semanas, um dia vislumbrei uma pequena elevação em seu abdomem, meu coração saltou, e no meu mais profundo ser eu concluí: "MEU DEUS É VERDADE!"
Porém eu não dava o braço a torcer, e não falava nem com ela, nem com ele sobre o bebê.
Entretanto numa madrugada, eu sonhei com ele: (estava sentada à beira de um rio, a água era barrenta, turva, e a correnteza era lenta, havia um garotinho ao meu lado, sua idade era aproximadamente 3 anos, ele tinha uma varinha na mão, olhando para mim, ele atirou a varinha na água do rio, e pediu que eu a pegasse, e eu com atitude firme, lhe respondi que não iria pegar, porque foi ele quem jogou, então ele começou a me enfrentar, dizendo que era para eu pegar, fazendo cara de choro, tipo birra, eu olhei fixamente para ele e repeti que não iria pegar  a tal varinha).
Acordei com a certeza de que o bebê que iria nascer na nossa família seria um menino.
Então naquela tarde, quando voltei do trabalho, encontrei sua mãe sóbria, preparando o nosso jantar, me sentei próximo dela na cozinha, e lhe perguntei se já tinha pensado em um nome para o seu filho, ela me respondeu que até então só tinha pensado em nomes femininos, então eu lhe questionei e se fosse menino? ela ficou em dúvida e me disse, que tinham me escolhido para ser madrinha, então ficaria assim, se fosse menina ela daria o nome, e se fosse menino, eu o batizaria também com um nome escolhido por mim.
Eu vibrei! porque ele já tinha se revelado para mim.